Zuzu Angel – Entre Moda e Ditadura

Quem é apaixonado pelo mundo da moda não pode deixar de saber quem foi Zuzu Angel. Muitos devem lembrar do filme com Patricia Pillar como a protagonista Zuzu e sua história contra a Ditadura (2006). Essa foi uma das muitas homenagens e maneiras que a cultura, a mídia e as passarelas usaram para divulgar o trabalho e história de vida de uma das mulheres mais fortes que nosso país já teve.

Zuleika Angel Jones foi a mãe da moda nacional, um grande nome brasileiro ativista em meio a Diatadura Militar e uma mãe que lutou para encontrar seu filho desaparecido.  Entre essas 3 menções, Zuzu e suas estampas de pássaros e anjos ganharam voz por todos os lugares, e deixaram nas principais passarelas do mundo um legado folclórico, cheio das riquezas da nossa terra.

Zuleika

Mineira, Zuleika fazia roupas caprichosas para suas primas desde nova, mas foi somente ao se mudar para Rio, perto da década de 50 que assumiu a profissão de costureira, onde 20 anos depois de muito batalhar, abriu sua loja em Ipanema e começou a fazer desfiles dentro e fora do Brasil.

Seu diferencial de cores, tecidos de renda e seda com estampas de pássaros, papagaios e borboletas despertaram o interesse de muita gente, que por acreditarem e reconhecerem o trabalho de Zuzu ajudaram-na a expandir seus negócios nos Estados Unidos, para onde levou sua criação e começou a realizar desfiles. Foi uma das primeiras ao promover sua marca nas roupas, expondo-a na parte de fora das peças, essas trabalhadas com muita feminilidade, cores tropicais vibrantes e utilização de materiais que representavam a cultura brasileira.

Ela utilizou de inspiração cada região do Brasil, desde os paraísos tropicais como Rio de Janeiro, as vestimentas das baianas e a história do cangaço do Nordeste.

Zuzu Angel

O drama da vida da estilista começou no ano de 71, quando seu filho foi morto e desaparecido. Stuart Jones, filho de Zuzu era um ativista contra o golpe militar (que teve início em 1964 e durou 21 anos), e entre os atos contra a opressão política foi apreendido, torturado e dado como desaparecido pelas autoridades. Porém Zuzu não deixou que abafassem a morte de seu filho e denunciou o crime nas mídias nacionais e internacionais, e fez um arquivo de documentos e denúncias para o Secretário de Estado de Governo dos Estados Unidos, Henry Kissinger.

Ela também utilizou das passarelas para protestar e denunciar pelo que havia ocorrido, utilizando figuras de meninos presos, crucifixos, tanques de guerra e anjos amordaçados, uma temática nunca vista antes em seus trabalhos. Em contraste, uma peça se tornou ícone do seu desfile-protesto. Um vestido branco com desenhos infantis de tanques e jipes de guerra misturados a casinhas e bichinhos que pareciam ter sido desenhados por crianças.

zuzu vestido

Todos os jornais internacionais começaram a veicular sua história de vida e as lojas mais renomadas a comercializar suas roupas. Sua voz ganhou tanto poder que a tornou um ícone de luta e bravura, e sua procura pelo filho só teve fim no dia de sua morte, em um acidente de carro na cidade onde fez seu nome, Rio de Janeiro. Foram várias as cartas que Zuzu deixou para contar sobre as perseguições e ameaças que sofreu e uma semana antes do acidente, Zuzu deixara na casa do amigo Chico Buarque um documento que deveria ser publicado caso algo lhe acontecesse, em que escreveu: “Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho”. 

O caso levou muito tempo para tomar seu curso final, somente em 2007, a  Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos, inseriu  no processo que a morte pode ter ocorrido por causas não naturais, e o depoimento de duas testemunhas que viram outro veículo fechar a passagem do carro onde Zuzu estava.

zuzu angel 2

Recomendo para quem não conhecia sobre Zuzu Angel a ver o filme, que é dirigido por Sérgio Rezende (conhecido pelo longa O Homem da Capa Preta de 1986 com José Wilker como protagonista). O filme ilustra com uma interpetação maravilhosa por conta de Patricia Pillar e Daniel Oliveira o que ocorreu durante a vida da estilista e sua busca por respostas, sem contar que mostra o trabalho deixado por Zuzu para a moda onde o figurino ficou por conta do talento da Kika Lopes onde você pode saber mais sobre o trabalho e dedicação no site Mulheres do Cinema Brasileiro.

Outra obra que se baseia na história de Zuzu é o livro Em Carne Viva do autor José Louzeiro sobre uma trama policial que envolve o regime militar como cenário onde criminosos agiam sob a cobertura de policiais corruptos e tinham favorecimento de autoridades políticas. Minha mãe tinha um exemplar deste livro, do qual me ensinou sobre quando entrei no colegial e acho excelente, me abriu os olhos para ver como muita coisa passou desapercebida pela população, a história do Brasil é muito rica, contada por atores, jornalistas, ativistas, escritores e essa “costureira” de forma tão valente e ávida que seria impossível não querer influenciar qualquer um que esteja lendo este texto a procurar mais assuntos sobre.

Hoje dia 5 de Junho foi o dia em que Zuleika nasceu em 1921, a quase 100 anos (94 anos).

zuzu angel 4

Imagens e Fontes de auxílio : IZA – Revista Zuleika fornecida no SPFW de 2014 a imprensa.

Sarah Campos

Fundadora do Sahssaricando. Vive com a cabeça no mundo da lua, parou no tempo do Balão Mágico e tem alma oitentinha. Gosta de assuntos bons o suficiente para render horas de conversa e é uma eterna aprendiz da vida.

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