1ª PalafitaCon acontece em Agosto

Santos é a quarta cidade nerd do Brasil, segundo ranking divulgado em maio pela Amazon Brasil. A gigante do comércio eletrônico considerou os dados de vendedores de marketplace nas categorias Eletrônico, Casa & Cozinha e Papelaria. A lista elenca municípios com mais de   100   mil   habitantes   e avalia a base per capita, a saída dos produtos e os downloads de livros digitais, no período entre abril de 2017 e o mesmo de 2018. Uma nova lista deve ser divulgada em breve. Nos últimos quatro anos, Santos sempre figura no top 8, ao menos.

Durante todo o ano os santistas têm à disposição eventos e projetos geeks. É um segmento que fomenta a cultura, o turismo, a educação, é lúdico, envolve crianças, jovens e adultos, homens e mulheres. Encanta, envolve, e cresce cada vez mais.

Frequentar o universo geek, no entanto, demanda deslocamento e dinheiro. Alguns eventos são gratuitos, outros não. Mesmo nos gratuitos é preciso reservar verba para conseguir comprar quadrinhos, bonequinhos. Nem todos conseguem participar. O Dique da Vila Gilda, por exemplo, é a região de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da Baixada Santista. Mais de 25 mil pessoas vivem sobre palafitas, à margem do Rio Bugre.

Com o objetivo de proporcionar a experiência do mundo geek a quem não tem chance de frequentar os demais eventos, surge a PalafitaCon, que ocorrerá em 17 de agosto, das 10h às 18h, no Instituto Arte no Dique. Idealizada pelo produtor cultural André Azenha, do CineZen Cultural (que fez 10 anos de atividades culturais em 2019 e também é responsável pelo Santos Film Fest), a convenção contará com diversas atividades gratuitas e ocupará toda a Escola de Arte e Cultura Plínio Marcos, onde está a Instituição. A iniciativa também visa atrair pessoas de outros bairros de Santos, cidades da Baixada e de outras regiões a conhecerem o Dique da Vila Gilda.

Em 30 de agosto do ano passado o Santos Film Fest – Festival de Filmes de Santos lançou a Gibiteca do Instituto Arte no Dique após campanha de arrecadação de gibis em parceria com a Santos Comic Expo. Mais de 7 mil gibis foram arrecadados. Na ocasião o espaço foi lançado com diversas atrações como os cosplayers do Festa Encantada (princesas Disney) e a galera do fã clube oficial Star Wars Baixada Santista. Houve distribuição de livros e gibis. Hoje a Gibiteca do Arte no Dique funciona diariamente atendendo centenas de crianças da comunidade. E a partir desse momento surgiu a ideia de realizar a PalafitaCon, que reunirá novamente os personagens do Festa Encantada, do grupo Superamigos (cosplayers que fazem ações sociais), dos fã-clubes oficiais de Star Wars e Star Trek, além do Batman Personagem Vivo, entre outros!

“Em 2018 tivemos um vislumbre da importância em trazermos o mundo geek ao Arte no Dique no lançamento da Gibiteca no 3º Santos Film Fest, quando vivemos uma manhã inteira de atividades com cosplayers, distribuição de gibis, exibição de filme, etc. Centenas de pessoas participaram. Conversamos com membros do universo geek santista e todos se empolgaram com a oportunidade de democratizar ainda mais o acesso a este segmento. Teremos quadrinistas, palestrantes, mesas de RPG, jogos de tabuleiro, cosplayes. Todos envolvidos voluntariamente no projeto”, explica André Azenha, que trabalha há cinco anos como assessor de imprensa da ONG.

“Muito importante para comunidade da Vila Gilda e Zona Noroeste ter essa inclusão com o mundo geek, dos games, HQs e tecnologia. Sabemos que é uma realidade tão presente, a tecnologia está aí tão acessível, para todos. Então gosto muito desse envolvimento que mescla o dia a dia da comunidade com a realidade do mundo das fantasias. Os jovens poderão ter contato de perto com aquilo que muitas vezes está tão longe, por conta dos valores dos ingressos mais a distância da localidade. Isso foge muito da realidade aqui dos jovens da comunidade, que hoje possuem, por conta dos acessos às informações, a vontade por filmes dos heróis, games e apps. Isso é o papo dos jovens, independente da classificação social. São assuntos atuais, e eu fico muito grato com essa oportunidade que o PalafitaCon está gerando”, ressalta o produtor cultural do Instituto Arte no Dique, Felipe Seguro.

Programação

ALEXANDRE DE MAIO

O evento contará com a participação deAlexandre de Maio, que faz jornalismo em quadrinhos e teve sua carreira influenciada pela cultura hip hop. Nascido em 1978, em São Paulo, aos 21 anos, começou sua carreira editando a revista Rap Brasil, que unia matérias tradicionais e histórias em quadrinhos sobre as periferias e a cultura de rua.

Em 2006 lançou sua primeira história em quadrinhos “Os inimigos não mandam flores (Ed. Pixel)” com textos do escritor Ferréz. A partir de 2010 passou a desenvolver o jornalismo em quadrinhos em veículos como Estadão, Folha, Catraca Livre, Veja, Fórum, e especialmente a Agência Pública onde ganhou o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo, em 2013, pela reportagem “Meninas em jogo” sobre exploração sexual infantil.

No mesmo ano publicou o livro em quadrinhos “Desterro” (Ed. Anadarco) sobre a vida na periferia. Em 2014 teve sua primeira reportagem em quadrinhos republicada na França na revista Courrier e foi finalista em duas categorias no Prêmio Abril de Jornalismo.

Em 2015 produziu uma série de quadrinhos especiais sobre as olimpíadas para a Veja e o UOL e foi finalista em 3 categorias no “Prêmio Gabriel Gárcia Marquéz” de Jornalismo.

No final de 2015 o quadrinho Desterro foi lançado na França com o título Favela Chaos (Ed. Anacaona). Em 2016 Ilustrou o livro Génération Favela para editora francesa Ateliers Henry Dougier e publicou uma reportagem no livro Jesuis Rio (Ed. Anacaona). Em 2017 ganhou o primeiro lugar na categoria desenho do prêmio “Amico Rom” na Itália. Em 2018 lançou seu primeiro livro solo de jornalismo em quadrinhos, intitulado Raul, pela editora Elefante.

Tem desenvolvido oficinas, exposições e palestras sobre jornalismo em quadrinhos e até o momento publicou mais de 40 matérias em quadrinhos. Seu último trabalho foi a HQ “Unaí nunca mais” lançada em maio. O trabalho teve lançamento no Senado na sessão de Direitos Humanos. O quadrinho conta a história de uma chacina real que originou a data que reforça a luta contra ao trabalho escravo no Brasil.

FERRÈZ

Reginaldo Ferreira da Silva (São Paulo, São Paulo, 1975), também conhecido como Ferréz. Romancista, contista e poeta. A relação entre periferia e literatura está no centro de seu trabalho, seja em livros que narram o cotidiano dos moradores de regiões distantes do centro de São Paulo, seja em sua atuação como organizador de eventos e promotor de novos escritores.

Após exercer diversas ocupações durante a adolescência, como vendedor ambulante de vassouras, balconista e chapeiro de redes de fast-food, inicia sua trajetória na literatura, com o livro de poemas Fortaleza da Desilusão (1997), influenciado pela poesia concreta. Dois anos depois, funda o grupo 1DaSul, interessado em promover eventos e ações culturais na região do Capão Redondo, periferia da cidade de São Paulo. Ligado ao movimento hip-hop, além da ação cultural e política que empreende, escreve letras de rap e canta em grupos locais.

Em seus romances e contos, Ferréz apresenta em chave realista problemas cotidianos vividos pela população das regiões periféricas de São Paulo. Suas histórias, consideradas por ele literatura marginal, expõem por meio da ficção os dilemas relacionados à situação marginalizada desses habitantes.

Estreia na prosa de ficção em 2000, com o romance Capão Pecado, em referência ao bairro paulistano, que tem no dia a dia da periferia seu tema principal. No livro, o cotidiano da periferia é introduzido ao leitor por intermédio do protagonista Rael, que tenta, diante das adversidades, manter uma conduta honesta e a hombridade em relação ao mundo e às pessoas que o cercam. O que poderia aparecer como construção moral rígida na estrutura do romance se apresenta, na elaboração literária, como uma investigação complexa das éticas que presidem as relações interpessoais na periferia, elemento central no processo criativo do autor.

Na obra, o personagem principal, dividido entre a solidariedade a um amigo e a paixão pela namorada deste, acaba pendendo para o lado da paixão e tenta, da melhor maneira que consegue, manter uma conduta coerente com seus valores. O desfecho dessa história, no entanto, não difere muito das outras trágicas que são narradas paralelamente: Rael casa-se com a namorada do amigo e tem um filho. É traído pela companheira e pelo patrão, que o demite. Sem mulher, filho e trabalho, resolve matar o antigo patrão. Preso, morre na cadeia assassinado pelo companheiro de cela com uma caneta no ouvido. O romance aponta, em seu desfecho, para as dificuldades de trilhar um caminho dentro dessa ética complexa e movediça que aos poucos é revelada.

Com Manual Prático do Ódio (2003), seu segundo romance, Ferréz intensifica a pesquisa do anterior, na medida em que coloca no centro da narrativa um grupo de bandidos que tentam se associar, por meio da profissionalização do crime, e aumentar assim os rendimentos, realizando assaltos com melhor planejamento. Como em Capão Pecado, talvez de maneira mais consciente, os limites éticos e a sobrevivência no crime e fora dele dão o ritmo veloz da narrativa.

No mesmo ano, Ferréz lança o disco de rap Determinação. Seguindo a linha narrativa dos livros, o escritor traça o cotidiano da periferia. O disco traz participações de Chico César (1964) e Arnaldo Antunes (1960).

Ferréz publica em 2005 o livro infantil Amanhecer Esmeralda, que conta a história de uma menina negra e pobre, em processo de amadurecimento e conscientização sobre a realidade em que está inserida e sobre seus problemas sociais. Por meio de gestos de afeto que recebe, a menina escapa à resignação e à apatia e encontra uma nova maneira de encarar a vida e as pessoas. No mesmo ano, o autor lança a antologia Literatura Marginal: Talentos da Escrita Periférica, que reúne textos de autores vindos da periferia. Os textos haviam sido publicados na revista Literatura Marginal, criada e editada por Ferréz em 2000.

No ano seguinte, Ferréz escreve um livro de contos e crônicas, Ninguém É Inocente em São Paulo, que reúne seis narrativas também ambientadas na periferia. De 2001 a 2010, atua como cronista na revista Caros Amigos e publica, em 2009, Cronista de um Tempo Ruim. No mesmo ano lança o documentário Literatura e Resistência, que conta os últimos 11 anos de sua história.

Ferréz busca em sua obra revelar a violência a que estão expostos seus personagens, à medida que investiga criticamente esses sujeitos, que são, ao mesmo tempo, vítimas e agentes do processo social no qual se inserem. Sua prosa busca reconstituir a musicalidade da variante linguística da periferia de São Paulo e constituir um ponto de vista literário e crítico interno a essa realidade.

Em 2015, lança Os ricos também morrem, livro de contos curtos e de leitura ágil. Aproximando-se da linguagem do rap, Ferréz transita entre realidade e ficção ao narrar, em 40 textos, a vida de personagens que vivem na periferia, assim como a violência que transita nestes espaços, seja pela criminalidade ou pela forte repressão policial exercida pelo Estado.

Ferréz usa a escrita como uma maneira de visibilizar a realidade de uma população marginalizada pela cidade e pelos meios tradicionais de produção artística. O autor usa sua potência de escritor para narrar cotidianos e histórias e abre espaço para que novos autores possam fazer o mesmo

ATIVIDADES

Várias atividades estão confirmadas. A equipe da Mosh Escola de Arte marcará presença produzindo sketches (artes de personagens feitas na hora) gratuitamente aos interessados. As pessoas poderão pedir o desenho do seu personagem preferido. O projeto Contos Lúdicos será responsável pelas mesas de RPG e jogos de tabuleiros, indicados a todas as idades. Claudio Roberto Basílio, um dos organizadores da Santos Comic Expo, palestrará sobre a importância do super-herói Pantera Negra para a  cultura pop e a representatividade. Cosplayers do fã clube oficial Star Wars e das Princesas Disney do projeto Festa Encantada, e do projeto Super Amigos, receberão a plateia para fotos e selfies. Haverá ainda estande especial do Homem-Aranha, exposição de personagens de filmes infantis.

“Estamos realizando o evento na base das parcerias, amizades e entusiastas do setor. Instituições e empresas interessadas em ajudar com estrutura, equipamento e outros elementos são bem vindas. Nossa ideia é contarmos ainda com a parte de lojas, porém desde que ofereçam produtos e valores bem populares a quem estiver frequentando a PalafitaCon, e ainda distribuir gibis e livros gratuitamente”, destaca Azenha. Interessados em contribuir podem entrar em contato pelo email palafitacon@gmail.com ou pela página www.facebook.com/palafitacon.

Atualmente o Instituto Arte no Dique também conta com uma Gibiteca lançada no 3º Santos Film Fest, após campanha de arrecadação promovida pelo festival em parceria com a Santos Comic Expo. Foram arrecadados mais de 7 mil gibis, que podem ser lidos diariamente no espaço. A ONG atua há 16 anos realizando a inclusão social a partir da cultura e da cidadania. Eventos como o festival O Som das Palafitas, Arraial do Arte, Semana Cultural Plínio Marcos, entre outros, ocorrem anualmente, além de diversas oficinas formativas que acontecem todos os dias ao longo do ano.

 

PalafitaCon 
Sábado, 17 de agosto, das 10h às 18h
Instituto Arte no Dique – Rua Brigadeiro Faria Lima, 1349, Rádio Clube.
Entrada gratuita.

Sarah Campos

Fundadora do Sahssaricando. Vive com a cabeça no mundo da lua, parou no tempo do Balão Mágico e tem alma oitentinha. Gosta de assuntos bons o suficiente para render horas de conversa e é uma eterna aprendiz da vida.

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