A convite do Cine Roxy pudemos conferir este que é um dos mais cotados filmes ao Oscar de 2019. O “road trip movie”, gênero no qual grande parte do longa se passa em um veículo durante uma viagem, apresenta crítica social constante, seja em seus momentos dramáticos ou nos cômicos.
Durante os anos 60, o racismo ainda era bem latente nos Estados Unidos, em especial no sul do país. O simples ato de entrar em uma loja ou restaurante no qual não eram permitidas pessoas “de cor” era o suficiente para uma sessão de humilhação pública, se a pessoa tivesse sorte. Espancamentos e desaparecimentos eram bem comuns na região. Pensando na proteção dessas pessoas o carteiro Victor Hugo Green criou o “Green Book”, um guia de segurança para que negros pudessem viajar pelo sul do país, com os estabelecimentos nos quais poderiam ser aceitos.
É com esse livro nas mãos que Tony “Bocudo”, personagem de Viggo Mortensen, começa sua jornada. O italiano brucutu tem sua própria cota de preconceito racial, mas a necessidade de manter sua família durante um período em que estava sem trabalho faz a proposta de um pianista se tornar irrecusável. Dr. Don Shirley, vivido por Mahershala Ali, é um gênio da música, condecorado nas maiores honrarias acadêmicas e dotado de habilidades fora do comum, o que atrai muita atenção da elite dos EUA.
Ao longo do percurso, a dupla vai passando por situações cada vez mais fortes, e o crescimento de seus personagens é latente. Tony, que nos é apresentado como um macho-alfa racista, começa a questionar seus próprios preconceitos e aprende aos poucos a compreender o artista, enquanto Don consegue se encontrar e entender as alegrias mais simples da vida ao lado do companheiro italiano.
Quando vemos as situações apresentadas através de Shirley, a crítica social é direta e latente. A empatia surge automaticamente, quando vemos os absurdos e as situações nas quais ele tinha que se sujeitar. A linha do filme é bem direta, mostrando momentos de tensão e apreensão com o personagem, enquanto fica a cargo de Tony o papel de alívio cômico. Mas ai é que está um dos pontos chaves para entender o filme. Toda a graça do personagem de Viggo Mortensen é bem definida e leva a sala as gargalhadas, mas analisando friamente as cenas e dialogos, vemos que o alívio cômico do filme nada mais é do que nosso pretenso preconceito com alguém que nos é apresentado como intelectualmente inferior e bruto, de forma que o filme nos leva a analisar nossos preconceitos tanto nos momentos duros quanto nos mais amenos.
Os roteiristas tiveram um carinho especial em construir o filme. Todas as cenas são cativantes, emotivas e leves, e um dos trunfos é que além de Peter Farrelly e Brian Currie está Nick Vallelonga, filho do verdadeiro Tony “Bocudo”. Sim, a história além de tudo é baseada em fatos reais, de dois desconhecidos que encontraram um no outro a força para se tornarem pessoas incríveis.
Viggo Mortensen está no que muitos consideram o papel de sua vida, tão imerso que é dificil dessassociá-lo e pensar no ator separado deste personagem. Mahershala não fica atras entregando um Don Shirley autêntico, verdadeiro e que faz jus a sua contraparte real. Sem sombra de dúvidas, o filme merece todas suas indicações ao Oscar e é um dos favoritos para o prêmio máximo da noite.
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