Um dos personagens mais aclamados pelo público consumidor de cultura pop é sem sombra de dúvidas o Batman. Porém, o Cruzado de Capa teve diversas visões durante as eras, sendo a mais famosa a versão sombria e atormentada do Homem Morcego.
Não é dela que falaremos hoje! Com Batman ’66, revisitamos o clássico Batman Camp (com estética teatral e exagerada, que ironiza ou ridiculariza o que é dominante). Com muito foco no seriado estrelado por Adam West (como Batman) e Burt Ward (Robin), temos um apanhado de histórias extremamente cativantes que te fazem ficar preso a leitura, ainda que a temática seja bem mais infantil do que estamos acostumados para o Cavaleiro das Trevas.
A série de TV foi exibida de 1966 a 1968, e deixava de lado a sobriedade do personagem focando no humor e no ridículo, como o famoso Bat-Repelente de Tubarão e as onomatopeias tomando lugar dos golpes dos heróis. O seriado teve 60 “histórias”, todas divididas em 2 partes formando 120 episódios. Nele, Bruce Wayne é um playboy que vive na casa de sua tia e tem uma identidade secreta ao lado de seu parceiro mirim Dick Graysson. Para auxílio dos heróis temos o mordomo Alfred, o comissário James Gordon e o chefe de polícia O’Hara. A série é considerada uma “sátira consentida”, por conta de diversos pontos desde a construção do enredo até os próprios personagens. Adam West, por exemplo, está visivelmente fora de forma para o papel, e vestir o manto do Homem morcego deixa isso mais em evidência ainda. Burt Ward consagrou o chavão “Santa …, Batman!”, repetindo-o a exaustão. Há uma necessidade dos vilões criarem planos extremamente complexos para derrotar Batman, e a mesma necessidade desses mesmos vilões explicarem todo seu plano antes de concretizá-lo. Ainda assim, o seriado gerou uma legião de fãs e muitos conheceram outras vertentes do Cruzado de Capa graças a esse seriado.
E o encadernado da Panini é uma homenagem a essa época menos densa e perigosa. Nele, quatro histórias são mostradas nos moldes do seriado antigo, com participações de diversos vilões como O Charada, O Pinguim, Senhor Frio, Cabeça-de-Ovo, Rei Relógio, entre outros. Seu arqui-inimigo, o Coringa, obviamente está presente na galeria de vilões.
Nele não vemos o habitual do Batman. É um mundo mais infantil e inocente, onde as brigas dificilmente passam de um soco e um pontapé. As cenas de luta dão espaço para engenhocas do mal que causam sono, ataques de riso ou hipnose. Neste mundo, o bem e o mal estão claramente traçados, e os vilões não chegam perto dos psicopatas atuais de Gotham. Em vez disso, são megalomaníacos e carentes de atenção, criando planos mirabolantes que acabam não prejudicando ninguém. O roteiro fica por conta de Jeff Parker, que estava trabalhando anteriormente no já muito bem citado Aquaman entre 2014 e 2015
A arte, feita por Jonathan Case, Ty Templeton, Joe Quimones e Sandy Jarrel, com capas de Mike Allred, é perfeita para o que ele se propõe. Durante toda a leitura, a nostalgia e o sentimento de rever o seriado dos anos 60 está presente, mesmo que o fato de ser desenhado tenha permitido alguns exageros aos artistas, especialmente na parte acrobática (em que o homem morcego não fica atrás de suas contrapartes atuais). Há também a preocupação de “atualizar” o personagem, com aparições pequenas de Harleen Quinzel e do Capuz Vermelho original. São referências que agradam qualquer leitor assíduo do Homem Morcego.
Em resumo, é um quadrinho extremamente divertido, despretensioso e a meu ver necessário, pois volta a permitir que autores libertem sua criatividade e não se prendam nas milhares de linhas cronológicas do universo dos quadrinhos.
Para quem se interessar tem o exemplar na Saraiva, 132 páginas, capa dura por R$ 16,00 nesse link.
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