No sábado, 19 de outubro, acontece a primeira edição do Divecon – Festival de Economia Criativa de PcDs e Raros- em Osasco.
Um dos destaques do Festival é a feira criativa com 20 expositores PcDs, Raros ou familiares, que apresentarão suas histórias e produtos feitos com amor, superação e o propósito anticapacitista de destacar potências.
O Festival de Economia Criativa de PcDs e Raros de Osasco é uma realização
do Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas e do Governo Federal, Ministério da Cultura, através da Lei Paulo Gustavo. Conta com
apoio da Prefeitura Municipal de Osasco. E a produção está sob responsabilidade da Tudo Sobre Inclusão Consultoria, dirigida por Cristiane Mayworm, mãe atípica, portadora de Artrite Reumatoide desde os 15 anos, consultora e produtora cultural; Renata Poskus Eventos e Comunicação e Vilma Queiroz Produções Culturais.
Com o objetivo de estimular o empreendedorismo; a formação de coletivos sociais anticapacitistas; contribuir com a geração de renda da comunidade PcD de Osasco e região; e apoiar o surgimento de novos empreendedores com deficiência e doenças raras por meio da educação e conscientização com palestras e oficinas foi idealizado o Divecon.
Confira algumas histórias inspiradoras de empreendedores que participam do Divecon- Festival de Economia Criativa de PcDs e Raros:
Koisas de Pano
Maria Lúcia Andrade de Vasconcelos, com cegueira monocular, tem 67 anos, ficou cega na infância (aos 6 anos) após uma surra, e desde criança começou a fazer peças artesanais, quando tinha 11 anos e sua irmã caçula nasceu, a mãe resolveu trocar os lençois e ela pegou os antigos e costurou roupas para a irmã recém-nascida.
Hoje, Maria Lúcia tem a Koisas di Pano e cria bonecas repletas de afeto, além de dar aulas de bonecas de pano.
A empreendedora destaca que a deficiência não é um impeditivo para prosperar com seu negócio: “Insista, persista e não desista jamais.”
Liberart – Le Coutrim desenhista
A artista Letícia Coutrim que hoje tem 28 anos, recebeu o diagnóstico de autismo só aos 23 anos, mas desde criança tratava Déficit de Atenção e Hiperatividade.
E foi nas sessões de psicoterapia que encontrou na arte a sua forma de expressão e a arte se tornou sua profissão. Letícia estudou Artes Visuais na faculdade. Ela desenha desde os 8 anos e também canta e toca violão.
“Minha maior missão é mais do que representar pessoas neurodivergentes; quero ser defensora da inclusão e diversidade, especialmente para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), buscando contribuir com projetos e campanhas de conscientização nos ambientes de trabalho, além de usar meus talentos artísticos pela causa”, destaca Letícia.
No Divecon a artista apresenta pôsteres com algumas de suas obras. Ela fala sobre seu processo criativo: “Minhas criações frequentemente incorporam uma paleta vibrante, mesmo quando abordam temas sombrios. Vejo minha arte como um scrapbook onde colagens, escritos, desenhos e elementos se entrelaçam.” E completa: “minha assinatura é marcada pela complexidade e riqueza de detalhes”.
Ateliê das Pimentas
Costura Criativa em família! Cada um ajuda em uma das áreas do Ateliê das Pimentas que foi criado há cerca de ano. A mãe Rosane Pimenta, 53 anos, ao se ver aposentada depois de 34 anos trabalhando como bancária, decidiu fazer um curso de patchwork, mesmo sem saber costurar, mal passava a linha na agulha.
Rosane pediu ajuda para sua filha caçula Amanda, 23 anos, para fazer uma bolsa para os materiais de costura e o trabalho ficou perfeito.
“Vendo minha filha seguindo aulas no YouTube e desenvolvendo com tanta facilidade uma bolsa linda, acreditei que poderíamos costurar juntas e isso inspirou a criar o Ateliê das Pimentas”.
E o novo negócio chegou em boa hora, já que aposentada, Rosane precisava complementar a renda para custear as despesas de plano de saúde e tratamentos da filha mais velha, Beatriz Pimenta, 28 anos, que tem Síndrome de Down/T21.
Beatriz trabalha como auxiliar de farmácia e contribui com o Ateliê das Pimentas criando as embalagens das peças, ajudando nas combinações de tecidos e modelos de bolsas, além de participar das feiras e eventos, no atendimento aos clientes.
Amanda Pimenta, a filha caçula, é a parte criativa do Ateliê e além da costura , faz crochê e Amigurumi – técnica japonesa para criar pequenos bonecos em crochê ou tricô.
Já Eduardo, o marido de Rosane e pai de Beatriz e Amanda, ajuda nas entregas.
No Divecon o Ateliê das Pimentas apresentará peças feitas com muito amor e união familiar. São sacochilas, ecobags, bolsas de praia, cangas, bolsas de mão, bolsas térmicas e Amigurumis.
Churros da Villa
Pais atípicos, Fabiano Ribeiro, 41 anos, e Suellen, 38, em 2018, o casal decidiu deixar os empregos fixos que cada um tinha e montar um negócio próprio que desse mais flexibilidade de horários para acompanharem juntos os tratamentos dos filhos gêmeos atípicos.
Nícolas é autista suporte 2, tem deficiência intelectual, TDHA, TEPAC e distúrbio na fala, já Miguel tem Dislexia, TOD, TDA e TEPAC. Na época os meninos tinham 4 anos.
O primeiro passo rumo ao próprio negócio foi investir no aprendizado de preparação da massa de churros, em Laranjal Paulista. A primeira tentativa não deu certo, mas o começo difícil não inibiu o casal que contou com apoio de familiares e pouco a pouco foram construindo uma clientela fiel.
“Hoje temos dois carros de churros na rua e a estação gourmet que levamos para vários tipos de festas, como casamentos, aniversários e confraternizações. E o que mais desejávamos, graças a Deus, se concretizou: temos tempo. Sim, para pais atípicos o tempo é precioso. O Churros da Villa nos proporciona exatamente isso, a realização de poder acompanhar nossos filhos nas terapias e ofertar a eles um tratamento digno diante dos diagnósticos”, declara Suellen.
Suellen e Fabiano estimulam os filhos a participar das atividades da Churros da Villa, de acordo com suas potencialidades.
Suellen conta que Nícolas é muito talentoso desenhando, fazendo dobraduras. Tem a imaginação fértil, já Miguel é ótimo em matemática e domina muito bem a tecnologia.
Instituto Empathiae
Fundado há 10 anos por Mônica Xavier, mãe de filhos prematuros, que pensou em um espaço seguro, dedicado a acolher mães, principalmente aquelas que receberam o diagnóstico de deficiência de seus filhos.
Dirigido por Mônica Xavier, o Instituto Empathiae é um lugar onde as mulheres podem expressar suas dúvidas, seus medos e até sua raiva – porque sim, elas têm o direito de questionar e de se sentir desamparadas.
Mônica Xavier conta sobre sua experiência como mãe de 3 filhos prematuros, hoje adultos: “Minha jornada como mãe começou há muitos anos, trazendo à tona uma série de desafios que moldariam minha visão sobre maternidade e inclusão. Sou mãe de três meninos, hoje já adultos. Meu filho mais velho acaba de completar 36 anos, mas a caminhada até aqui foi marcada por dificuldades que testaram minha força e resiliência. Meus três filhos nasceram prematuros. Dois deles ficaram na maternidade enquanto eu voltava para casa, e o mais novo foi desenganado pelos médicos três vezes. Além disso, o diagnóstico de TDAH chegou de surpresa, numa época em que pouco se falava sobre o tema.”
Em meio aos anos difíceis como mãe e sendo julgada por todos, Mônica conheceu uma outra mãe que estava enfrentando uma realidade desafiadora, seu bebê havia nascido com Síndrome de Down/T21 e acompanhando a trajetória dessa mãe ela percebeu o reflexo de suas próprias angústias.
“Como ela, eu também havia enfrentado o medo e a insegurança de lidar com algo inesperado. Nós, mães, muitas vezes somos deixadas à margem, sendo forçadas a “engolir o choro” e seguir em frente, mesmo quando a alma está em pedaços“, conta Mônica.
E dessa identificação, desse compartilhamento de dor e silêncio, nasceu o Instituto Empathiae. Com a missão de acolher e fortalecer mães e suas famílias.
Com o tempo perceberam que a missão era muito maior: a de levar Esperança! Esperança que o futuro apesar das dificuldades pode ser repleto de conquistas, alegrias, momentos leves.
Hoje o Instituto Empathiae também oferece capacitação para mães em situação de vulnerabilidade, ajudando a complementar a renda familiar através de atividades como artesanato, costura e culinária.
A fundadora Mônica Xavier finaliza orgulhosa: “E, mais do que nunca, compreendemos que a vida é um jardim repleto de flores diversas, cada uma trazendo seu próprio perfume e sua própria leveza para os nossos dias.”
Encantiê Concept
A fundadora da marca de moda inclusiva, Grace Santos, 44 anos, é uma voz ativa na inclusão de corpos com deficiência na moda desde 2017.
A motivação veio da observação da falta de representatividade de determinados grupos em seu ambiente de trabalho e em outros lugares.
A falta de representatividade de corpos diversos a inspirou a criar uma marca que desse espaço e voz a esses corpos.
Grace Santos não tinha conhecimento de design e de costura, mas estava determinada a criar sua marca, foi enfrentando desafios incluindo o de conquistar a confiança de PcDs.
Em 2022, um novo desafio para Grace ao ser diagnosticada com Artrite Reumatoide, uma doença autoimune. E um ano depois veio o diagnóstico de Síndrome Antisintetase, doença rara e sem cura. Grace precisou de um tempo para si mesma e deu uma pausa nas atividades da marca.
“Receber o diagnóstico de uma doença rara não é fácil, por vezes, me pego pensando apenas na minha jornada”, admite Grace. Para lidar com sua realidade, ela buscou ajuda psicológica que lhe permitiu olhar além da sua própria história.
Hoje, Grace Santos afirma que “Eu procuro viver uma vida em que meu diagnóstico não seja minha sentença”.
Determinada voltou ao trabalho, agora em um ritmo adaptado tanto ao tratamento quanto às importantes parcerias desenvolvidas ao longo dos anos.
E o convite para participar do Divecon – primeiro festival de economia criativa que dá voz a PcDs e Raros, foi um dos momentos mais marcantes dessa nova fase.
Grace acredita que a moda inclusiva tem o poder de elevar a autoestima de pessoas com deficiência: “Quando mostro um corpo com deficiência, o mundo descobre que também há pessoas com deficiência por trás da produção”.
Otimista, Grace acredita que marcas como a Encantiê Concept desempenham papel fundamental na construção de um futuro mais inclusivo.
Além de exibir seus produtos na feira criativa, Grace Santos faz parte da programação e ministrará a palestra “Economia Criativa – Empreendedorismo Feminino” das 11h às 12h30.
Luciano Coutrim
O ilustrador Luciano Coutrim tem 25 anos e aos 5 recebeu o diagnóstico de autismo. E foi durante o tratamento de Fonoaudioterapia que começou a desenhar.
Apaixonado pela cultura pop japonesa, Luciano cria ilustrações baseadas nos animes, mangás, jogos, rock, fantasia e RPG. Ele já exibiu seus desenhos em eventos de anime.
Ele se inspira em artistas como Guilherme Freitas (Brush Rush); Bruce Timm;
Fabricio Pretti; Yoshitoshi ABe; Akira Toriyama; Mike Luckas; CLAMP; Tim Burton; Jamie Hewllet (Gorillaz) e Alex Ross.
Luciano Coutrim trabalha durante o dia em uma farmácia e além do atendimento tem proporcionado leveza e entretenimento aos clientes através de seus desenhos.
Ele está ansioso para participar do Divecon e apresentar suas ilustrações para um público que não necessariamente conhece a cultura pop japonesa, animes, mangás, entre outros. Luciano contou que levará ilustrações de mangás e animes mais conhecidos do público em geral.
O ilustrador contou que está desenvolvendo um projeto de história em quadrinhos, mas que ainda está no processo de desenvolvimento do roteiro e personagens, então não pode falar mais sobre o projeto, apenas que tem mistura de Dragon Ball com Senhor dos Anéis.
Perguntado se ele é um Nerd, Luciano explicou que é otaku, um nerd apaixonado pela cultura japonesa.
Luciano Coutrim é irmão da Letícia Coutrim que é desenhista e também estará na Feira Criativa do Divecon. Os estilos dos dois irmãos são bem diferentes, então eles ainda não desenvolveram nenhum projeto artístico em conjunto.
Acompanhe as histórias de todos os 20 expositores no link: https://divecon.
A importância da inclusão e da independência econômica
O Brasil tem mais de 18 milhões de Pessoas com Deficiência e cerca de 13 milhões com alguma condição rara de saúde, segundo dados do IBGE divulgados em 2022. Ainda segundo o IBGE, analisando a inserção no mercado de trabalho, o nível de ocupação é de 26,6% entre as pessoas com deficiência, contra 60,7% entre a população brasileira total.
Cristiane Mayworm, destaca “o Brasil conta com leis para que pessoas com deficiência sejam integradas no mercado de trabalho formal, no entanto as políticas públicas ainda são insuficientes para absorver os inúmeros talentos das PcDs e muitos jovens com deficiência possuem aptidões que são natas e desenvolvidas para a arte e o microempreendedorismo criativo e cultural é uma oportunidade de extravasar talentos e construir independência econômica e autonomia”.
Programação do Divecon
O Divecon contará com programação totalmente gratuita tanto no espaço expositivo com 20 microempreendedores locais com Deficiência ou Doença Rara; Oficinas de artesanato e gastronomia; palestras e case de sucesso; além de um Pocket Show e palestra motivacional com o músico, cantor, compositor e multi-instrumentista Douglas Dôdi.
Feira de Economia Criativa
Das 11h às 20h
Com 20 microempreendedores PcDs e Raros apresentando seus trabalhos para o público
Palestra: Economia Criativa para o Empreendedorismo Feminino
Palestrante: Grace Silva Santos Mori
Das 11h às 12h30
Mulher preta, empreendedora social, diagnosticada com uma doença rara, a síndrome antissintetase. Formada Tecnóloga em RH, Economia e Moda Inclusiva. Grace Silva Santos Mori fez o figurino de “Lisbela e o Prisioneiro”, que contou com pessoas com Síndrome de Down/T21 no elenco, em parceria com o Instituto Movimentarte. Falará sobre empreendedorismo feminino.
Oficina: Gastronomia – compotas em conserva
Oficineira: Eneida Mara Bettoni
Das 14h às 16h
Advogada, bancária, mulher aposentada por epilepsia, ensinará a arte da gastronomia como forma de sustentabilidade econômica familiar como uma forma criativa para confecção e comércio de compotas de conservas de legumes.
Oficina: Confecção de Acessórios (colares e pulseiras)
Oficineira: Giovanna Massera
Das 16h às 18h
Mulher preta, com lúpus, com síndrome de Cushing (condição Rara), Giovanna Massera é produtora de moda desde 2023, modelo inclusiva e criadora de conteúdo. A oficina no evento será de Acessórios (Colares e pulseiras). Ela já atuou como stylist da ex-BBB Raquele Cardozo.
Palestra e Pocket Show Musical
Artista: Douglas Jericó – Dôdi
Das 19h às 20h
Músico, cantor,compositor e multi-instrumentista Douglas Dôdi é tetraplégico e palestrante motivacional reconhecido desde 2010. Contará sobre sua carreira com deficiência no universo da música fechando a programação com um Pocket Show.
A comunicação e a linguagem utilizadas serão acessíveis, com intérpretes de LIBRAS e monitores especializados em atendimento e atenção ao público conforme especifidades.
Serviço
Divecon
Data: 19/10/24 (sábado)
Horário: das 11h às 20h
Local: Escola de Artes César Antônio Salvi
Rua: Ten. Avelar Píres de Azevedo, 360 – Centro, Osasco/SP
Entrada gratuita e livre
Local com acessibilidade
Intérpretes de LIBRAS e monitores especializados em atendimento a PcDs e Raros.
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