Fomos convidados pelo Cine Roxy para assistir o novo longa brasileiro Bacurau, ganhador do voto popular em Cannes.
Logo no começo do filme é possível entender todas as críticas positivas e aplausos que Bacurau recebeu no maior festival de cinema do mundo. O filme é de uma beleza ímpar, chocante, e ao mesmo tempo que é brutal e agressivo consegue aquecer o coração. A ultraviolência é uma ferramenta usada por alguns dos grandes nomes de Hollywood, dentre eles o mais famoso é Quentin Tarantino. Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles parecem naturais em explorar a violência de forma bela, tornando-a uma obra de arte. Bacurau bebe da fonte de Tarantino, mas parece ter tornado o produto ainda mais sincero e agradável aos olhos.
Um dos grandes pontos do filme é sua falta de preocupação em não ser estranho. Bacurau é uma cidadezinha do sertão brasileiro, a oeste de Pernambuco. Os problemas ali são muitos, mas isso não impede as pessoas de amarem e protegerem o local. A estranheza do ambiente é passada sem medo, o que torna a ficticia Bacurau uma cidade única, mas altamente reconhecível para o público brasileiro. E isso acaba se tornando um fator comum ao longo do filme. Os momentos ficcionais acabam se mesclando com a realidade, seja na figura do político desonesto que tenta arrancar tudo de um povo sofrido até a figura do estrangeiro maligno, com uma atuação impressionante do veterano alemão Udo Kier.
O filme se nega a usar um ser humano como protagonista. Ao longo de seus 132 minutos você é impelido a amar e torcer por Bacurau, gostando ou não de todos os moradores. E a maioria deles não se esforça para ser agradável na tela, se esforça para ser real na situação em que é proposto. Sonia Braga atua brilhantemente como Domingas, a médica da cidade que está enraizada no território, atuando como mãe, médica, conselheira e defensora, mesmo enquanto lida com sua própria dor e com tudo o que perdeu.
O grande destaque dentre as atuações fica para Silvério Pereira, entretanto. Famoso por sua participação na telenovela A Força do Querer, onde interpretou brilhantemente a transição da personagem Elis Miranda, o ator surge transfigurado na figura de Lunga, um revolucionário que se apresenta como primal e bestial, completamente fora dos padrões sociais de grandes centros, que se mostra uma pessoa amada e respeitada pelos moradores locais, em uma clara alusão moderna a figura do Cangaceiro.
O filme denota muito claramente suas referências. Ele é um Western moderno e a Brasileira, uma renovação mais que bem vinda no gênero e muito possivelmente a chance do Brasil nas premiações da Academia. Cada minuto dentro do cinema é aproveitado nesta obra de arte!
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