Neste final de semana ocorrerá a reabertura do Teatro Municipal de Santos, e nada melhor do que começar o trabalho com uma peça de um dos maiores e mais polêmicos dramaturgos do Brasil: O santista Plínio Marcos.
O Abajur Lilás, escrito em 1969, conta a história das prostitutas Dilma, Célia e Leninha, exploradas por Giro, dono do mocó onde toda a peça se desenvolve. Apesar de dividirem o mesmo quarto e a mesma realidade cruel, as três tem pouco em comum. Enquanto isso, o cafetão utiliza a violência na pele de Osvaldo, o truculento guarda-costas de giro, enquanto usa de chantagem para manter as moças sob seu controle.
Dilma vive sob tortura em uma submissão forçada, tudo pensando no futuro que seu filho pode ter longe da realidade em que vive. Célia, por sua vez, é impulsiva e luta com todas suas forças para conquistar sua independência, entrando constantemente em atrito com Giro. Leninha, a terceira e mais jovem das meninas, é extremamente individualista e sobrevive com uma ilusão de felicidade graças a pequenas regalias que consegue do cafetão.Neste ambiente hostil, um simples abajur quebrado aumenta um conflito sádico que acaba conduzindo a trama a seu desfecho.
A peça conta com elenco inteiro santista formado por Orleyd Faya (Dilma), Rosane Paulo (Célia), Monica Camillo (Leninha) e Renato Fernandes (Osvaldo). O papel de Giro fica por conta de Nuno Leal Maia, ator santista que desde 1970 está na ativa, tendo participado de diversas minisséries e telenovelas da Rede Globo, além de diversos filmes e peças de teatro. Já a direção fica por conta de Tanah Corrêa, veterano da área de teatro e santista de coração, que já participou como ator e diretor em diversas peças de teatro, entre elas A Maravilhosa Estória do Sapo Tarô-Bequê e A Balada de um Palhaço.
Tive a oportunidade de bater um papo com Tanah, que me passou um pouco de sua visão sobre a peça:
“A história não tem uma moral. Ela tem um retrato da situação. Plínio Marcos sempre falou que era um repórter de um tempo mau.”
Ele prossegue dizendo que as peças de Plínio Marcos são atemporais, não por serem clássicos, mas porque a situação do país não muda, deixando assim a peça extremamente atual. Tanah então traça um paralelo entre a opressão exercida pelo cafetão Giro e a opressão exercida pela ditadura militar. O próprio Tanah sentiu na pele esta opressão, tendo uma música de seu grupo proibida de tocar em um festival (musica que venceu o festival, por sinal) e foi perseguido pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Ele inclusive continua a parabola com os dias atuais, aonde diz que a opressão, apesar de mais “envernizada”, ainda existe em diversas áreas do país e do mundo.
“Isto é um exemplo do que não deve acontecer. Plínio (Marcos) mostra a situação como uma crítica, como uma bandeira a favor das minorias”. O personagem de Nuno Leal Maia é homossexual, classe que em 1969 era marginalizada e ainda mais oprimida, fato que Plínio Marcos mostra em sua obra.
De família simples, Plinio Marcos não chegou a completar seus estudos. Depois de uma série de profissões, acabou conhecendo e fazendo amizade com a escritora e jornalista Pagu, que o incentivou a entrar no meio do teatro amador de santos. Sua primeira peça teatral, Barrela, foi proibida durante 21 anos depois de sua primeira apresentação por sua linguagem crua. Plínio sempre foi bem ativo durante a época da ditadura, escrevendo para diversos jornais além de manter suas obras no teatro. Após o fim do período ditatorial, ele ainda manteve seus trabalhos, tanto em obras adultas quanto infantis. Portador de Diabetes, Plínio faleceu aos 64 anos, em 1999.
Quer uma opção legal para fazer neste fim de semana? Que tal aproveitar um pouco da cultura da cidade e apoiar a cena teatral?
Serviço – O Abajur Lilás de Plínio Marcos. Local: Teatro Municipal Brás Cubas (Av. Pinheiro Machado, 48, Santos). Sábado (14/11) às 21h. Domingo (15/11) às 19h. Ingressos custam R$20,00 inteira, R$10,00 meia. Os ingressos podem ser adquiridos na Bilheteria do Teatro ou na Escola de Teatro TESCOM (Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 195)
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