“Enquanto tem mulheres sendo massacradas pelo patriarcado, tem outras querendo explicar feminismo para homem cis. Todas as vivências são necessárias, mas a luta é muito maior. Enquanto tentamos acabar com o patriarcado e atingir essas mulheres periféricas no movimento feminista, (muitas inclusive não fazem nem ideia do que isso significa), outras querem incluir homens nele. O opressor. Pra cada homem que você quer explicar feminismo, troque por duas mulheres. Empodere duas mulheres no lugar de explicar feminismo pra um homem. Os efeitos vão ser incríveis e muito mais eficazes. O feminismo é muito mais do que podemos tocar. É muito mais amplo, e só vai ser verdadeiro quando não excluir nada, e puder chegar onde nós não estamos. Quando pudermos aprender com todas as vivências que não fazem parte de nós, e quando pudermos presenciar o pleno empoderamento, sororiedade e empatia entre mulheres. Não fazemos parte de algo limitado, a luta é muito maior.”
Foi com essa citação acima que Maynara, de 23 anos, deu início a ao movimento online Empodere Duas Mulheres que visa dar um basta na forma agressiva do machismo. A jovem tem como objetivo conscientizar as garotas de seu próprio potencial e poder de voz e a fortalecerem umas as outras, crescendo todas juntas e vencendo a diferença de gênero. Eu tive o imenso prazer de bater um papo com ela que respondeu algumas questões sobre o projeto para nós aqui do Sahssaricando.
S: Antes de tudo, vamos falar um pouco da idealizadora, a Maynara. Você tem apenas 23 anos e conseguiu montar esse projeto super bacana em prol das mulheres. Como veio essa ideia? Como ela se sentia em relação a desvalorização da mulher?
A ideia surgiu de um texto que eu escrevi bem no começo do ano. Nele, eu desabafava sobre o movimento feminista, mas principalmente sobre a inclusão de homem cis dentro dele. Homem cis é aquele que foi identificado como homem quando nasceu, e permanece se identificando com o seu gênero de nascimento até o final da sua vida. Sabemos que ele é a maior personificação do machismo. Nós o identificamos como o opressor, já que possui privilégios dentro da sociedade machista, misógina e patriarcal. Ouvimos muitos discursos de mulheres falando que devemos inclui-los dentro da nossa luta, mas isso é sempre muito complicado de ouvir. Sou a pessoa que acredita piamente que é muito mais importante nós repassarmos esse conteúdo para outras mulheres. São as partes que realmente importam nisso tudo, e que merecem atenção. São as pessoas que sofrem misoginia, que são desvalorizadas, que sofrem violência doméstica, assédio. A desvalorização da mulher é ainda uma realidade muito triste que nós vivemos, mas eu tenho esperanças de conscientizar e atingir mais pessoas com a campanha, e espalhar um pouco do feminismo. Femininjar.
S: O termo empoderar é dar poder, dar voz a alguém. Como você acha que as garotas poderiam usar esse empoderamento entre si?
Empoderar-se é o ato de tomar poder sobre si. É entender que você faz parte de algo maior, e que unidas, conseguiremos conquistar muito mais do que se continuarmos a nos ver como rivais, concorrentes. Quando nos empoderamos, sabemos que juntas podemos ser pessoas mais fortes.
S: E para os garotos? Você acha que essa mensagem chegará neles?
Isso tem que chegar, de uma forma ou outra, por bem ou por mal. Eles têm que entender que a igualdade da mulher é urgente e necessária. Muitos reagem bem e entendem isso, outros acabam reagindo mal e se revoltando. Os que se revoltam e ficam soltando ofensas e deslegitimando o movimento, nós costumamos falar que são os chorões, e que bebemos suas lágrimas, as MALE TEARS. É uma coisa que eles apenas têm que aceitar, porque está acontecendo.
S: Como você vê a competição entre mulheres? Tem como acabar com isso?
A competição é realmente uma coisa muito triste. Somos ensinadas desde criança que mulheres devem ser rivais, não amigas. Isso beneficia muito o patriarcado, que aplaude quando mulheres tornam-se competidoras. Temos que entender que não precisamos ser melhor do que a outra, ter um corpo melhor, um namorado melhor, coisas melhores, ser mais bonita, muito menos atrair mais a atenção dos homens ou brigar por eles. Somos especiais, cada uma da sua forma, e quando nos unimos, somos mais fortes para lutar contra o machismo e o patriarcado.
S: Quanto ao machismo, você acha que as mulheres o praticam mais ou menos do que os proprios homens?
As mulheres não são machistas, elas apenas são reprodutoras de machismo. Reproduzem coisas que foram ensinadas a pensar desde pequena. Ensinadas a competirem entre si, a chamar outras mulheres de inimigas, a olhar torto achando que a outra pode roubar um namorado. Os homens são sempre machistas, pois foram socializados assim desde o momento em que nasceram. Nunca foram repreendidos para coisas que mulheres sempre foram. Os homens são mais machistas do que as mulheres, porque eles são, enquanto elas apenas reproduzem.
S: Conte-nos quem são suas mulheres inspiradoras.
A escritora e filósofa feminista Simone de Beauvoir, autora do livro “O Segundo Sexo”, que eu recomendo a leitura a todas que queiram saber mais sobre o movimento. Malala Yousafzai, ativista paquistanesa e vencedora de um prêmio Nobel aos 17 anos. Ela tem uma história incrível de defesa à educação, e pra quem quiser saber mais, também tem um livro, “Eu sou Malala”. Eu poderia citar muitas outras mulheres, fazer uma lista extensa. Eu realmente me inspiro em cada mulher que conheço, principalmente pra dar continuidade ao projeto. Cada uma tem a sua história de inspiração e superação. Todas as mulheres são inspiradoras.
S: Quais são seus objetivos futuros com essa ação?
Com certeza levar isso para o físico. Claro que também continuar com as campanhas de internet, porque ela tem se mostrado cada vez mais eficiente para a propagação de conteúdo. Atingimos já organicamente mais de 400 mil pessoas e queremos continuar fazendo mais. Em uma semana e meia de campanha, foram 11 mil curtidas na página, e queremos continuar atingindo mais mulheres. Mas principalmente, tanto digitalmente quando fisicamente, atingir mulheres periféricas ao movimento feminista. Disseminar o conteúdo, falar disso para incluir quem não se sente beneficiada por esse movimento. Que nunca ouviu falar de empoderamento, de não-competição entre mulheres, ou de feminismo.
Para acompanhar de perto o movimento e ficar por dentro deste trabalho maravilhoso da Maynara curta a Fan Page Empodere Duas Mulheres que lá ela publica o andamento da ação, ensina a outras garotas sobre valor próprio e edifica com pensamentos pra lá de positivos e verdadeiros. Uma inspiração a se seguir. Parabéns Maynara, nós aqui estamos com você nessa!
Parabéns Sarah pela matéria e para Maynara pela iniciativa.
Nós mulheres temos muito o que fazer e mostrar o nosso valor pra esse mundo machista.
Bjs lindas!