Mulher 50+, negra e Plus Size cria “Pretinhas na Moda”

A moda inspira e também exclui, mas pode incluir e dar protagonismo para a diversidade, acreditando no poder transformador da moda, Vilma Queiroz, mulher preta, 50+ e plus size que conseguiu realizar seus sonhos após a aposentadoria realiza o evento Pretinhas na Moda que abre portas para empreendedoras mulheres negras que atuam no mercado de moda e para mulheres que desejam desfilar.

 

Vilma Queiroz conta que após os 50 anos conseguiu realizar alguns de seus sonhos relacionados a moda que vinham desde quando era pequena e via sua dindinha Rita fazendo roupinhas para bonecas de pano.

 

Ela que desde criança já gostava de moda, aprendeu a costurar aos 12 anos, também aprendeu patchwork, crochê e tricô.

 

Hoje Vilma desfila em eventos importantes como a Casa de Criadores: “Sou negra, 50+ e plus size e por muito tempo não me sentia representada pela moda. Eu já amava moda, tinha o sonho de atuar no mercado de moda, mas não sonhava em ser modelo quando jovem. Aos 47 anos, participei do evento Dia de Modelo Plus Size, da Renata Poskus, gostei muito do resultado, da autoestima, de me ver representada por mim que investi em um curso para modelos plus size”. E completa: “A Moda ainda é muito excludente, moda não deve ser algo padrão. É identidade social, representatividade e temos que ter nesse universo pessoas de diversas faixas etárias principalmente 50+, corpos diversos e maior visibilidade a pessoas negras. Hoje realizo eventos de empoderamento feminino negro para que mulheres pretas de todas as idades alcancem seus sonhos, pois sonhar, lutar, acreditar e ter possibilidade é a força que impulsiona as mulheres negras na sociedade”.

 

Vilma Queiroz conta sua trajetória de mulher negra, filha de uma analfabeta e um mestre de obras, que através da dedicação aos estudos e a vontade de ser professora para ensinar a mãe a ler e escrever chegou a patamares inimagináveis para uma pessoa periférica em um país com grande desigualdade social.

 

 

Vilma Queiroz declara: “Sempre gostei de estudar e sabia que precisava me dedicar com afinco aos estudos para poder sonhar e realizar meus sonhos como o de ser professora para ensinar minha mãe a ler e escrever. Ela vendia Avon, essas coisas, quando eu era criança e ajudava a separar os produtos de cada cliente já que estudava e sabia ler”.

 

Ela começou a trabalhar aos 14 anos, em uma creche, na secretaria da creche, graças aos cursos que tinha no currículo como datilografia e auxiliar de escritório. Se tornou professora através do magistério e depois estudou Pedagogia e se especializou em educação inclusiva com foco em Pessoas com Deficiência (PCD).

 

Vilma lembra que em sua família era comum a terem como exemplo, com tios dizendo para seus primos e primas: siga o exemplo da Vilma, que é tão dedicada aos estudos.

 

Representatividade que inspira

 

A jornalista Glória Maria, primeira repórter negra a aparecer na televisão, inspirou Vilma Queiroz a correr atrás dos seus sonhos, incluindo o de viajar pelo mundo e de trabalhar com moda, com uma moda que a representasse já que a jornalista tinha um estilo próprio e respeitava também sua ancestralidade. Vilma conta que até quis ser jornalista como Glória Maria, e teve a oportunidade de estudar Publicidade e Marketing no Mackenzie, também na área de comunicação, e pensou em utilizar o nome Vilma Terra caso chegasse ao jornalismo.

 

“A Glória Maria aparecia na TV, fazendo matérias em diversas partes do mundo e sempre desejei conhecer o mundo, me inspirei nela e fui aproveitando cada oportunidade que surgia em minha vida, sempre tive desafios, mas sabia que para uma mulher negra chegar a realizar seus sonhos era necessário acreditar, enfrentar desafios e abraçar todas as oportunidades”, conta Vilma.

 

Pretinhas na Moda

 

O Pretinhas na Moda é uma realização do Ministério da Cultura e Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria da Cultura, Economia e Indústrias Criativas com recursos da Lei Paulo Gustavo. A produção e direção é de Vilma Queiroz Produções Culturais e Renata Poskus Eventos e Comunicação.

 

 

A primeira edição acontece em 23 de novembro, na Fábrica de Cultura da Nova Cachoeirinha, e além da Feira de Economia Criativa com empreendedoras pretas que atuam no mercado de moda, o Pretinhas na Moda destaca oficinas e palestras com mulheres pretas mostrando suas potencialidades e ensinando outras pessoas a empreenderem em uma mercado tão competitivo como o da moda, evidenciando e reverenciando a ancestralidade e os saberes de todos os tempos.

 

Empreendedorismo Feminino e Preto

 

No Brasil, 40% dos adultos negros são empreendedores, com negócios que movimentam R$ 1,7 trilhão, segundo a Pesquisa Afroempreendedorismo Brasil, realizada em 2021.

 

O estudo destaca que 4,7% das startups brasileiras foram fundadas exclusivamente por mulheres, mas que esse percentual sobe exponencialmente quando o foco é o empreendedorismo negro, com as mulheres representando 61,5% do total.

 

De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), esses negócios representam 17% do total no país e que, entre essas mulheres, 49% são as responsáveis financeiras pelo próprio núcleo familiar.

 

Dentro desse contexto o Pretinhas na Moda tem entre seus objetivos incentivar e orientar empreendedoras negras no mundo da moda – as que já atuam no mercado e principalmente aquelas que desejam empreender na área – e a programação totalmente gratuita destaca palestras e oficinas – todas ministradas por mulheres pretas que são referência em seus segmentos.

 

Mulheres pretas na indústria da moda: porque representatividade importa!

 

A indústria da moda é uma das principais para a economia brasileira, já que o Brasil possui a única cadeia completa do ocidente – desde a plantação da matéria-prima como o algodão até o varejo, passando por fiação, tecelagem, confecções, beneficiamentos até a venda direta para o consumidor.

 

O relatório “Mulheres na Confecção – Estudo sobre gênero e condições de trabalho na Indústria da Moda” do Ministério Público do Trabalho aponta que 98% de toda a produção nacional é feita por micro e pequenas empresas.

 

O mesmo relatório destaca que profissionais negros recebem salários 18,5% menores que profissionais brancos, numa das indústrias de transformação que mais emprega e uma das que paga os menores salários.

 

Mulheres fazem o motor da indústria da moda girar: 75% da força de trabalho em toda cadeia têxtil é formada por mulheres e das respondentes da pesquisa do relatório “Mulheres na Confecção” 44,9% das brasileiras entrevistadas se autodeclaram pardas e 15,2% negras, enquanto entre as migrantes e refugiadas entrevistadas 7% se autodeclaram indígenas.

 

Pretinhas na Moda

 

Programação gratuita

 

A Oficina: “Saiba criar brincos e acessórios com materiais sustentáveis” que acontece das 10h ao meio-dia abre a programação. Suely Rezende, mulher preta, cadeirante e 60+, ensinará como criar brincos e acessórios reaproveitando materiais como tecidos, caixas de leite, garrafas PET, entre outros materiais que seriam descartados e recebem uma nova chance através da criatividade e do reaproveitamento dos materiais assim como Suely Rezende reinventou sua própria história depois do diagnóstico de uma doença neurológica autoimune que interrompeu sua carreira de enfermeira especialista em UTI e professora de enfermagem.

 

Aos 50 anos, Suely se tornou cadeirante. A sensação era de perder o direito de ir e vir além de tudo que havia conquistado. Ela fez a reabilitação no Lucy Montoro e lá através de atividades como artesanato e artes no geral, enxergou a oportunidade de se tornar artesã igual a sua mãe e arte-educadora, depois de já ter sido atleta paralímpica. Hoje aos 69 anos Suely Rezende transforma materiais que iriam para o lixo em peças de luxo, contribuindo com a sustentabilidade e gerando renda para suas alunas.

 

 

A palestra “Empreenda! Saiba como criar e tirar do papel a sua marca de moda” será ministrada por Cynthia Mariah, designer de moda na sua marca que leva seu próprio nome e que em 2024 completa 20 anos de existência e resistência, já que empreender no Brasil traz diversos desafios, principalmente para mulheres pretas.

 

Além disso, Cynthia é professora de moda do Senac e cofundadora do Núcleo de Pesquisas de modas africanas e afro-diaspóricas. Nesta oficina, ela explicará às potenciais microempreendedoras sobre os desafios da criação de uma marca própria e explicará as importantes etapas dessa construção, com muita responsabilidade e criatividade. Das 13 às 15 horas.

 

 

Oficina: “Do lixo ao luxo: aprenda a criar novas roupas usando a arte do upcycling”

 

Upcycling é a arte de transformar uma peça antiga, que muitas vezes seria destinada ao lixo, em uma nova peça, valiosa e única, gastando pouco dinheiro e empregando muita criatividade com a reutilização de materiais. A técnica também pode ser usada por empreendedoras criativas e, assim como na oficina de bijuterias, também é uma aliada à sustentabilidade ambiental. A arte-educadora é a africana de Benin, Japhette Ozias, que escolheu o Brasil para viver e a área da moda como profissão.

Japhette ensinará técnicas de Upcycling das 15 às 17 horas.

 

“Moda é arte e ser modelo é ser artista”

 

Por muito tempo mulheres negras nas passarelas de moda eram raridade, hoje adultos presença é maior, sem que ainda seja igualitária.

 

A arte-educadora Gabrielle Kathleen, a Babi Paula, preta e gorda, sabe bem dos desafios do mundo da moda. Ela , que já desfilou em importantes eventos como Casa de Criadores e São Paulo Fashion Week, falará sobre sua carreira, desafios, conquistas, dará dicas de como iniciar na profissão e, para completar, dará aula de passarela.

 

Quantas meninas sonham em ser modelos? A representatividade é fundamental para que Pretinhas de todas as idades se sintam empoderadas e confiantes com sua própria beleza e sua própria moda. Das 17 às 19 horas.

 

 

O Fashion Show Pretinhas na Moda fecha a programação do evento, das 19 às 19h30, com música ao vivo, um show da cantora e pandeirista Camila Arruda.

 

Na passarela cada uma das marcas expositoras na Feira de Economia Criativa Pretinhas na Moda apresentará um look de sua coleção que será desfilado por mulheres pretas, cis, trans, PcDs, escolhidas através de edital do Pretinhas na Moda.

 

Acompanhe Pretinhas na Moda pelo @pretinhasoficial

 

Serviço:

Pretinhas na Moda

Data: 23 de novembro 2024

Horário: 11 das 20 horas

Local: Fábrica de Cultura da Nova Cachoeirinha

Endereço: rua Franklin Amaral, 1575

São Paulo, SP

Entrada gratuita

Sarah Campos

Fundadora do Sahssaricando. Vive com a cabeça no mundo da lua, parou no tempo do Balão Mágico e tem alma oitentinha. Gosta de assuntos bons o suficiente para render horas de conversa e é uma eterna aprendiz da vida.

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