Mais um capítulo da saga Star Wars estreou essa semana nas salas de cinema. E dessa vez não foi muito fácil lidar. Os Últimos Jedi tem tudo o que se espera de um bom filme da saga, e tudo aquilo que a gente queria evitar também. Demorei bastante para conseguir escrever essa resenha, e por isso só estou soltando-a agora, após uns dias da estréia.
A história segue de maneira linear, continuando de onde O Despertar da Força parou. Rey encontra Luke Skywalker em uma ilha afastada e lhe pede para ser treinada nas artes da Força. E, enquanto isso, Kylo Ren continua a ser doutrinado pelo Imperador Supremo Snoke nas artes das trevas.
Mas para quem achava que o filme ia se resumir em explicar as perguntas feitas no título, está bem enganado. Os Últimos Jedi não só remodelam a maneira que a história é contada, como humaniza cada personagem. Não é sobre família, não é sobre a Força, não é sobre Jedis e Siths…. é sobre uma guerra!
[ATENÇÃO: ESSA CRÍTICA CONTÉM SPOILERS, PARE DE LER AQUI CASO NÃO QUEIRA ESTRAGAR NENHUMA SURPRESA]
O filme começa com uma grande disputa entre a Resistência e a Primeira Ordem. Os poucos rebeldes que restaram na galáxia, liderados por Leia Organa, tentam escapar das naves comandadas pelo general Hux. O clímax é de continuidade de o Despertar da Força, e todos os eventos seguintes parecem somente se atentar a um único plot: escapar do inimigo.
Poe Dameron (Oscar Isaac), o melhor piloto e combatente da Resistência, começa de maneira sensacional sua aparição, causando uma intimidação em Hux (Domhnall Gleeson) de maneira divertida e inteligente. Poe é um personagem fácil de se gostar: heroico, correto, corajoso (e gato), assemelhando-se muito a Han Solo com seu ar de “encrenqueiro”.
A intenções de Poe são genuínas de um herói “full good”, e com isso ele contesta autoridade, se joga na batalha e não teme a afronta inimiga. Sua interação com Leia (Carrie Fisher) é linda de se ver, Leia é uma personagem branda sem perder sua imponência como líder de uma oposição. E mesclar um garoto “trouble maker” a uma “mãe de todos” é um resultado perfeito demais.
Ouso dizer que Leia é o personagem de maior carinho e apreço para a franquia Star Wars. Mesmo com poucas atitudes, cenas e até falas, ela consegue levar ao filme uma graciosidade maravilhosa. E nesse longa ela aparece ainda mais sensitiva a Força, ganhando uma cena linda enquanto voa pelo espaço (literalmente).
Finn começa uma jornada paralela visando proteger Rey, que está longe da Resistência, e no meio do caminho conhece Rose. Ambos confabulam uma maneira de invadir uma das naves principais da Primeira Ordem, para garantir que a Resistência possa escapar e encontrar refúgio.
Para mim, Finn (John Boyega) é um ótimo personagem de apoio e, junto de Rose (Kelly Marie Tran), cria mais um caminho para o filme se desenrolar (fato engraçado, porque o objetivo desse filme não era chegar a nenhuma conclusão, mas mostrar o caminho).
Essas sequências de cenas de Finn e Rose a procura de uma maneira de salvar a Resistência puxam o filme para um patamar mais realista. Mostrando que a guerra é lucrativa, e que muitos são subjugados em meio ao jogo de poder. Um outro personagem é inserido nesse contexto, o Toro (Benicio Del Toro), e, mesmo com uma pequena aparição, não passa desapercebido o talento do ator, que deixa uma sensação de que seu personagem irá retornar na sequência.
Enquanto isso, Rey (Daisy Riddley) chega na ilha onde Luke Skywalker (Mark Hamill) habita, com o objetivo de ser treinada para as artes da Força. Luke, por sua vez, já não é o herói que conhecemos ao final de O Retorno de Jedi. Ele se fechou para a Força após perder seu sobrinho, Kylo Ren/Ben Solo (Adam Driver), para o Lado Sombrio.
Assim como Luke quando chegou a Dagobah procurando por Mestre Yoda, Rey e Luke contracenam de maneira muito similar. Um mestre que não quer treinar seu novo pupilo, e um aprendiz que precisa encontrar seu lugar junto à Força e combater o mal.
A história começa a ficar empolgante com uma receita antiga (e que amamos): conforme Rey evolui pela lado da Luz, sua contraparte também cresce. Rey e Kylo Ren estão conetados, de uma maneira duvidosa, porém muito excitante.
Sem apelar para o romancismo cansativo que vimos em O Ataque dos Clones (lembram dos diálogos entre Anakin e Padmé?), a conexão entre Kylo e Rey é diferente. Eles não estão apaixonados, mas podemos dizer que “estamos vendo alguma coisa acontecer”.
Essa conexão “inexplicável” entre ambos é um dos maiores medos de Luke Skywalker, que em seu tempo de exílio chegou a conclusões definitivas: os Jedis devem deixar de existir. Essa resistência que Luke tem em voltar a manusear as artes da Força humaniza o personagem, colocando-o numa escala cinza: nem todo herói consegue ser sempre sensato.
Este longa mostra que as tentações do Bem e do Mal habitam em todos os seres, e cada ação pode te aproximar ou te afastar de algum dos polos. Fato mostrado por Kylo Ren no Despertar da Força ao ser tentado pela luz, e em Os Ultimos Jedis foi a vez de Rey ser tentada as forças das trevas. E isto foi algo inovador para a franquia, mostrar que existe uma escala de cinza entre o Bem e o Mal.
Essa resolução de roteiro deixou muitos telespectadores “frustrados”, por ser uma história rasa que se prolonga durante duas horas e meia de sessão. Mas isso não é um fator ruim, pelo contrário, o longa se transforma em uma missão de sobrevivência e resiliência.
Para quem estava acostumado a ver lutas de sabres, blasters e os heróis da Força, pode encontrar em Star Wars Os Últimos Jedi um pouco de tudo, menos um foco de importância. Todos os elementos colocados nesse filme são inseridos de maneira paralela a esse plot principal da fuga. E a Disney mais uma vez usa de maneira inteligente de seus mesmos artifícios de recontar uma história.
O filme é muito parecido com os anteriores, dando somente algumas pinceladas de um universo novo. Reacendendo a nostalgia dos fãs antigos (trilogia IV,Ve VIl), intermediários (trilogia I,II e III) e fazendo um convite irresistível para novas gerações. Não é um filme com um propósito final, mas sim um meio para um fim.
As cenas são eletrizantes, e ao mesmo tempo difíceis de lidar. A cada momento novo inserido no filme, a despedida de algo antigo se torna mais real. É como passar de ano, tudo o que existia vai acabando, e abrindo espaço para o novo. Essa nuance entre o passado da franquia e os novos planos da Disney acontece como um desmame, vai ser demorada, e cada peça crucial para completar o quebra-cabeça.
Então o que nos resta a fazer é ter paciência e aproveitar o passeio. Grandes coisas ainda estão por vir para aqueles que possuem fé!
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